sábado, 9 de janeiro de 2010

Agressividade na criança

Esta semana em TPIE, houve mais uma apresentação de um trabalho. Desta vez o tema era "A criança e a agressividade". Assim sendo, aqui fica algumas considerações a ter em conta quando os mais pequenos deixam escapar a fúria.

Um estudo recente mostrou que as crianças com comportamentos mais agressivos e que se mostram normalmente mais irritadas e desatentas tendem a ter menos amigos do que as restantes crianças. Estas diferenças são visíveis ainda na idade pré-escolar, nomeadamente no infantário.
O momento em que uma criança entra para a creche ou infantário é cheio de mudanças e emoções novas. A partir daqui, a criança passa a desenvolver competências sociais, que lhe permitirão interagir com o grupo de pares. Apesar de todos sabermos que o comportamento agressivo é comum em crianças pequenas, é expectável que a socialização com outras crianças potencie o desenvolvimento de competências que permitam que a criança aprenda a controlar o próprio comportamento. Mas a verdade é que existem crianças que mostram comportamentos mais agressivos, ou que o fazem com mais frequência do que as outras. Acabam por agredir os colegas, por reagir através de manifestações de raiva e por manifestar maior dificuldade em concentrar-se nas actividades propostas.

Mas isto não significa que não haja nada a fazer. Pelo contrário, existem maneiras de lidar com o comportamento agressivo e desafiador das crianças. Em primeiro lugar, importa fazer a distinção entre mau comportamento e criança má. Mesmo quando a criança é agressiva, ou provoca o adulto, é importante aceitar que estamos perante um mau comportamento, em vez de rotularmos a criança. De resto, importa lembrar que os colegas serão os primeiros a fazê-lo – se a criança mostra sistematicamente maus comportamentos, acaba por ser rotulada. Mas a verdade é que estes maus comportamentos não são mais do que formas disfuncionais que a criança encontra para mostrar que está assustada, que se sente frustrada, chateada ou magoada. Acontece que, por algum motivo, não é capaz de mostrar estas emoções de modo ajustado.

É relativamente fácil identificar o padrão comportamental destas crianças: batem, empurram, resmungam, fazem birras, recusam-se a cooperar e dificilmente controlam as suas reacções. Independentemente de o seu alvo ser outra criança ou um adulto, o resultado é o mesmo: frustração, irritação e punição. Como estas crianças tendem a provocar o medo entre o grupo de pares, são normalmente postas de parte, pelo que lhes é mais difícil criarem amizades, gerando-se ciclos viciosos preocupantes.

Depois, importa reconhecer que, mesmo as crianças mais agressivas, não são sempre assim. Existem momentos em que o seu comportamento é adequado e compete aos adultos que a rodeiam reconhecer e elogiar esse esforço – seja quando a criança é capaz de trabalhar sossegada, seja quando coopera com os colegas. O elogio sincero é uma ferramenta eficaz na promoção dos bons comportamentos.

Outra “arma” importante para lidar com estas crianças é a capacidade para manter a calma. Trata-se de uma tarefa difícil, às vezes hercúlea, mas frutífera. A ideia de vermos uma criança a desafiar as regras, desobedecendo a tudo o que lhe é proposto fará, quase de certeza, com que a tensão arterial do adulto responsável suba vertiginosamente. Mas é importante reconhecermos que estamos perante uma criança que não é capaz de controlar as suas próprias emoções, pelo que, se o adulto perder as estribeiras, acabará por reforçar positivamente a agressividade da criança. Às vezes, o melhor é “sair de cena” e tentarmos acalmar-nos antes de reagir, mesmo que tenhamos que dizer à criança “O teu comportamento está a enervar-me tanto que eu preciso de me acalmar primeiro”. Mas depois é preciso voltar e actuar com a firmeza que a situação exige. Isto mostrará à criança que os adultos, tal como ela, também sentem raiva e ficam chateados, mas que isso não lhes dá legitimidade para agarrar no cinto e desatar à tareia.

Sendo a raiva a emoção mais fácil de sentir, muitas crianças acabam por usar o comportamento agressivo ou desafiador para mascarar outros sentimentos, como a tristeza profunda. É importante ajudá-las a usar as palavras para expressar a sua dor e/ou para falar sobre as situações adversas.

As idades da fúria

Até 1 ano -Como se manifesta a agressividade
Através do choro, birras, mordeduras ou pontapés
Como agir com a criança
Dizendo ‘não’ aos comportamentos errados, reforçar pequenas recompensas (beijos e carinhos) quando tem comportamentos correctos. Apesar das crises de choro poderem acontecer todas as noites entre as 3 e as 12 semanas, ao fim de 4 meses desaparecem (se não deve falar com o pediatra)

Até aos 4 anos -Como se manifesta a agressividade
Através do choro, birras, destruir brinquedos ou empurrar e tirar objectos das mãos das outras crianças
Como agir com a criança
Dizendo ‘não’ aos comportamentos errados, reforçar pequenas recompensas (beijos e carinhos) quando tem comportamentos correctos, estabelecer limites e seleccionar programas de televisão

Até aos 6 anos - Como se manifesta a agressividade
Através do choro, birras, socos, pontapés, destruir brinquedos e outros objectos.
Como agir com a criança
Dizendo ‘não’ aos comportamentos errados, reforçar pequenas recompensas (beijos e carinhos) quando tem comportamentos correctos. Usar os castigos, em caso necessário e como último recurso.

Orientação

Ser pai ou mãe de criança agressiva não é fácil, mas existem formas de fazer com que esse comportamento vá desaparecendo. Saiba como lidar com o problema de forma responsável:

- colocar limites claros, razoáveis e sistemáticos- ser consistente na hora de estabelecer as regras

- não usar, de forma alguma, punição corporal, pois isso pode levar a criança a pensar que bater é uma forma correta de agir e expressar a sua raiva

- valorizar o comportamento positivo da criança

- evitar ceder a um comportamento coercitivo da criança - como choro, birra ou grito. O melhor é acalmar-se e estabelecer um castigo, sem agredi-la

- conversar com a criança sobre emoções, sentimentos e alternativas para lidar com eles- nunca ignorar um comportamento agressivo, mas impedi-lo imediatamente

– conversando com voz firme e estabelecendo um castigo na mesma hora

- conversar com ela sobre comportamentos agressivos e perigosos

- ajudá-la a descrever outras maneiras de lidar com problemas, sem ser agressiva e anti-social – como, por exemplo, chamar um adulto, gritar por ajuda ou conversar

- explicar que ninguém gosta de amigos briguentos e que as pessoas vão se afastar dela, pois crianças que brigam muito são as mais rejeitadas pelos colegas

- não se ater somente à censura, mas dar apoio e auxiliá-la a se comportar de outra maneira. Desenvolvendo habilidades sociais, como pedir, solicitar, desculpar-se, ouvir, trocar, emprestar etc.

- e, o mais importante, buscar dar sempre exemplos de bom comportamento.

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