sábado, 30 de janeiro de 2010

Dá Deus Dentes - Os meninos que mordem

Já levei algumas dentadas da pequena Joana em locais de estágio. Mas porque é que as levei? Bem a Joana saberá certamente. Quanto a mim, tratei de pesquisar!

"Dá Deus Dentes..."

E, de repente, o seu filho começa a ser conhecido no infantário como «o menino que morde». Não se preocupe em excesso, mas também não menorize a situação. Antes procure saber o que está na origem deste uso indevido dos dentes.

Uma criança tem, desde muito cedo, necessidade de expressar agressividade. O problema é que, nesta idade precoce, todos os caminhos para a explorar podem estar abertos à violência e à humilhação dos outros.

A «gracinha» de tirar os óculos ou dar bofetadinhas é velha. As crianças aprendem, e rapidamente, que a via da zanga não resulta. Passam assim a um registo diferente, embrulhando a agressividade num sorriso ingénuo que lhes permite fazer o mesmo mas com a aprovação de alguns adultos.

Branquear a intenção de um comportamento agressivo, quando ele roça a violência e a vontade de magoar, é apontar esse caminho como sendo bom. Daí a uns anos perderá a «graça», mas já terá ficado inculcado como comportamento que rende lucros. É indispensável, pois, que uma conduta destas, quando a intenção é manifesta, seja denunciada e censurada, com calma e sem agressividade.

Com o passar do tempo, a criança vai aprendendo que a expressão física da frustração é condenada, e depois de levar umas quantas reprimendas e algumas palmadinhas na mão acaba por perceber que este não é um caminho eficaz. Passa então para uma maneira encapotada de fazer o mesmo. Se este comportamento tiver o mesmo destino, irá encontrar mais uma forma de expressar a agressividade, ainda através de violência, dado que aprender o autocontrolo e o respeito não acontece de um dia para o outro.

Sabendo que, para agir fisicamente, tem de se aproximar do outro e arriscar-se a levar também, fica mais ao longe e usa a linguagem, porque pode assim agredir com um plano de fuga já previsto. É a fase em que começam a chamar «estúpido!» ou «parvalhona!». Mais uma vez, estes comportamentos não podem ser ignorados, mesmo que representem, por vezes, apenas um teste para ver a reacção dos adultos. O insulto é uma agressão equivalente, em violência, ao bater, cuspir ou morder.

Depois de uma fase em que estes epítetos são ditos em voz baixinha, aí mais para consolo do próprio (no sentido de ter a última palavra) do que para provocar o adulto, a criança, no seu caminho para uma aprendizagem da gestão dos sentimentos, pode passar por exteriorizar a agressividade atirando com objectos (não deliberadamente contra alguém, mas para o ar), e, por vezes, auto-agredindo-se (dando cabeçadas no chão ou na parede, ou puxando os cabelos).

Entre os dois e os três anos há um grande salto na aprendizagem da gestão da agressividade, e a partir dos três/quatro, já é possível canalizar a agressividade para actividades criativas e lidar com a frustração sem raiva ou violência. Podem surgir pontualmente surtos, mas a maioria das situações já são controladas pela própria criança. Aos cinco já se é um senhor.

USAR OS DENTES, MAL COMEÇAM A ROMPER

A utilização dos dentes para interagir com o próximo, pode não querer obrigatoriamente expressar um comportamento agressivo, pois muitas vezes faz parte do contacto natural que as crianças pequenas têm que ter com o corpo dos adultos, utilizando os cinco sentidos e particularmente a boca e as mãos – daí morderem, arranharem e baterem com certa frequência. Claro está que uma criança pequena pode não ter a noção de quanto magoa os outros, embora possa ter já claramente a ideia que está a fazer uma coisa errada. Por essa razão, é bom que, desde o princípio, as mordidelas sejam postas no seu lugar, ou seja, com um «não», sem violência mas com firmeza, principalmente com uma expressão que acentua a mudança de registo dos pais. Nestes casos, uma boa alternativa é dar às crianças brinquedos que elas possam roer e, desta forma, treinar os dentes.

As dores da dentição podem fazer com que as crianças sintam necessidade de esfregar coisas duras nas gengivas e até nos dentes. Existem vários preparados no mercado que podem amolecer as gengivas e aliviar as dores.

NO INFANTÁRIO

Muitas razões podem estar por detrás das frustrações que levam uma criança, com os outros meninos, a desforrar-se do que julga ser pouca sorte: inveja, ciúme, não conseguir o que quer, ser contrariada ou não poder fazer tudo o que quer e bem lhe apetece. Os dentes transformam-se, assim, em veículos de sentimentos da frustração mal vivida e não é por acaso que muitas vezes estas manifestações, como outras que denunciam birras, se dão mais com pessoas próximas do bebé do que com estranhos. Estas mordidelas devem ser reprimidas da mesma forma (ou até ainda mais firmemente), mas há que entender o que as motivou. Nos bebés que estão frustrados deve tentar levar-se a energia para coisas positivas, promover a auto-estima e desviar a atenção do problema em causa, para não se estar sempre a repreender e a castigar.

Muitas vezes, os mordedores sentem-se o centro das atenções – o que é, afinal, o seu objectivo principal. «Cuidado que ele morde!» – basta os adultos dizerem isto para a criança se sentir olhada por todos os presentes, mesmo que não pelas melhores razões, o que não é muito bom.

Alguns bebés mordem porque são mais pequenos, mais frágeis do que os seus colegas de infantário e então têm que se servir de todas as suas armas. A intervenção dos adultos é essencial, para sanar os problemas e resolver conflitos onde exista uma discrepância nas capacidades de luta dos vários miúdos envolvidos.

QUE PERIGOS PODEM EXISTIR?

Se bem que existam microorganismos que se podem transmitir pela saliva e pelo contacto com os tecidos mais profundos que a mordedura causa, não convém, no entanto, exagerar as coisas. As mordidelas poderão causar feridas e até arrancamentos de tecidos – estas lesões, sobretudo se forem na face, poderão deixar cicatrizes definitivas, para além de poderem infectar secundariamente e ser dolorosas (como os arranhões, aliás).

A natureza deu-nos dentes que não servem só para a alimentação mas também para a defesa e o ataque. E os bebés, sobretudo a partir dos sete/oito meses gostam e precisam de treinar a sua agressividade. Aliás, basta ver os sons que emitem, baseados no «rrrrrrrrrrrrhhh!». O problema passará com a idade – nos raros casos em que isso não acontece, então o médico assistente orientará o caso devidamente.

Não é anormal uma criança morder. Mais: cerca de dez por cento das crianças com dois, três anos de idade são mordedoras mais do que ocasionais. Claro está que o facto de ser comum não implica que este comportamento agressivo e incomodativo não deva ser reprimido desde a primeira vez, mas de preferência com conta, peso e medida.

Quando acontece um episódio de mordedura, interessa também tentar compreender porque é que isso aconteceu e se antes se passou alguma coisa mais transcendente, pois o mais natural é que a criança tenha sofrido alguma contrariedade e esteja ela própria a sofrer – o momento pode ser aproveitado para a ensinar a gerir essas situações adversas e de stresse sem obrigatoriamente atacar à dentada.

Há várias razões para uma criança morder e, para cada tipo de causa, há também uma resposta diferente.

ATITUDE MAIS RECOMENDÁVEL

Não é fácil lidar com estas situações. Não se deve bater ou castigar fisicamente, embora se tenha de mostrar que é um comportamento errado, que causa dores e faz mal aos outros. Depois de acalmada a vítima e o agressor, e resolvida a situação com as outras crianças, há que tentar entender porque é que aconteceu, se foi um episódio ocasional ou se já é um hábito e que causas estarão por detrás deste comportamento, designadamente mal-estar em casa ou no infantário.

Os pais devem cooperar com os educadores (e pedir ajuda aos pais das crianças mordidas, até para não perderem amigos nem ganharem inimizades) e assentar numa estratégia comum, em vez de desdenharem imediatamente o infantário por ter acontecido um episódio de mordeduras. Por outro lado, os pais da vítima devem também ser compreensivos – é verdade que é muito desagradável o nosso filho aparecer com a cara ou os braços marcados pelos dentes de outro bebé, mas é um risco que se corre de viver em sociedade e é preciso ver que os pais da outra criança já se sentirão suficientemente marcados e aflitos. O ideal é que a criança que mordeu peça desculpa ao ofendido. Não é recomendável morder a criança que morde. Pensarmos que, ao mordermo-la, ela entenderia a dor e, nesta idade, já teria desenvolvido os conceitos empáticos suficientes para perceber o que fez aos outros, seria então uma redundância, porque se tivesse compreendido isso... não teria mordido. Além disso, que exemplo daremos a um mordedor se formos nós próprios, adultos de referência, a mordê-lo? Melhor será expressar desagrado e tristeza pelo acto, mas nunca deixar de sublinhar que a criança é querida e que queremos ajudá-la a ultrapassar esse mau momento. ..

Fonte: http://www.paisefilhos.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=2099&Itemid=60&limit=1&limitstart=1

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