sábado, 6 de fevereiro de 2010

O medo do escuro

Os dinossauros são animais que criam um enorme fascinio nas crianças. Mas também existem algumas que não gostam destes animais gigantes, criando os seus próprios medos através da sua imaginação. Mas como funciona o medo na criança? Porque é que elas têm medo do escuro? Vamos descobrir.

“Mãe, tenho medo do escuro!”

Este é um apelo frequente entre as crianças, que resistem a ficar sozinhas na hora de dormir. Há que tranquilizá-las, mas sem desvalorizar aquele que simboliza todos os medos.

Quase todos nós na infância, na hora de dormir, lançamos apelos sucessivos para não ficarmos sós e, sobretudo, às escuras. Talvez a maioria de nós já não recorde esses momentos aflitivos. Mas quem tem filhos pequenos sabe, decerto, como o medo do escuro é perturbador.

O medo é, aliás, uma emoção que nos acompanha desde o nascimento. E que se manifesta muito cedo, através da chamada ansiedade da separação. O bebé receia ser separado da mãe: e, em consequência, chora quando ela se afasta do seu campo visual, reacção que mais tarde vai dar origem aos protestos quando a mãe se afasta efectivamente, quer esteja noutra dependência da casa, quer se ausente mesmo.

Este medo primordial só passa quando o bebé consegue representar a mãe na sua ausência física e compreender que, mesmo não estando à vista, a mãe existe e vai voltar.

É um caminho progressivo, no qual se vão encontrando outros medos. O do escuro está-lhe intimamente ligado: a criança que é deixada na sua cama para dormir reage quando a luz se apaga ou a porta se fecha - é o sinal de uma ausência que ela procura evitar a todo o custo, reclamando mais um carinho, o último beijo. Ou reclamando uma luz de presença, para atenuar o momento em que os contornos familiares se desvanecerão na noite: no escuro é como se não houvesse protecção...não se vêem sequer as paredes ou o tecto... Este é um medo que vai evoluindo com a idade.

É mais primário entre os 18 meses e os três anos, associado a monstros e seres aterrorizadores (é o famoso "papão"). Já dos quatro aos dez anos, é mais complexo. O medo do escuro é associado a um vazio que irá ser preenchido por criaturas desconhecidas e misteriosas, mais abstractas.

O que permanece em comum é a impotência da criança perante estes perigos.

Tranquilizar acima de tudo

O escuro pode ser verdadeiramente assustador para uma criança, quer no momento de adormecer, quer se acordar durante a noite. O mais provável é que procure o consolo dos pais, tentando dormir com eles - aí encontra a segurança, conseguindo esquecer o seu medo.

Perante uma criança a braços com o medo do escuro a primeira preocupação dos pais deve ser tranquilizála. O que implica ouvi-la, deixá-la expressar as suas emoções, resistindo sempre a desvalorizar. Há que compreender a importância do medo, fazendo-a sentir que é normal: e, para isso, nada melhor do que evocar algumas histórias de infância, mostrando que também os adultos tiveram os seus próprios medos.

E porque o momento de dormir é particularmente difícil é útil rodeá-lo de algumas rotinas tranquilizadoras: deixar uma pequena luz acesa, a porta entreaberta, o boneco preferido na cama (para tomar conta e afastar os monstros), contar uma história ajuda e muito.

E se o "monstro" aparecer, porque não procurá-lo debaixo da cama ou no roupeiro, pegar-lhe por uma orelha, abrir a janela e espantá-lo? É mais eficaz do que o melhor dos discursos: dizer que não existem monstros nem papões até pode convencer a criança a deitar-se, mas não faz desaparecer o medo.

Com o tempo, o medo do escuro acaba por desvanecer-se. Mas pode persistir até à adolescência, sem que seja sinal de um problema: afinal, é um medo simbólico. E é no escuro que algumas interrogações se colocam, sobretudo na idade de todas as dúvidas e todas as certezas.

Medos para todas as idades

Ter medo é natural. E é mesmo uma reacção que acompanha a infância nas suas diferentes etapas, logo a partir do nascimento:

• Até aos seis meses, o bebé tem medo dos ruídos bruscos, das luzes fortes, de cair e de perder o apoio;

• Dos sete aos doze meses, tem medo dos rostos desconhecidos, de quem o possa separar da mãe, dos objectos que surgem bruscamente no seu campo visual;

• Pelos dois anos, começa a ter medo do escuro, dos animais, das máquinas, das mudanças no seu ambiente, dos trovões;

• Dos três aos seis anos, domina o medo do escuro e, com ele, o medo de dormir só, de ser separado dos pais; surge o medo da doença e da morte;

• Dos seis aos doze anos, os medos são mais reais: acidentes, incêndios, ladrões e ainda a morte; a criança é impressionável pelo que vê e ouve, colocando questões sobre o que a rodeia, preocupando-se com o que lhe possa acontecer e sendo incapaz de relativizar os perigos.

Fonte: http://medicosdeportugal.saude.sapo.pt/action/2/cnt_id/2804/?textpage=1


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