sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Susceptibilidade da criança a doenças e infecções

Os temas desta semana a saúde infantil foram muitos e variados. Um deles foi av"Susceptibilidade da criança a doenças e infecções". Depois de pesquisar um pouco sobre o tema descobri este exelente artigo da autoria da Doutora Ana Leça, Directora de Serviço da Qualidade Clínica da Direcção Geral da Saúde.

As crianças estão sujeitas a qualquer infecção
Manter as nossas crianças saudáveis continua a ser, simultaneamente, um objectivo e um desafio», refere a Dr.ª Ana Leça.

Uma criança passa por um conjunto de infecções que são «normais» no seu processo de crescimento. Ter consciência desse facto é meio caminho andado para evitar certos alarmismos que, ocasionalmente, levam a um entupimento das urgências pediátricas, ainda mais se levarmos em linha de conta que temos dos melhores programas de vacinação ao nível da Europa.

«Apesar do controlo das doenças preveníveis pela vacinação, decorrente de uma cobertura de vacinação muito boa em Portugal, e apesar do decréscimo da mortalidade infantil, manter as nossas crianças saudáveis continua a ser, simultaneamente, um objectivo e um desafio, pois, a verdade é que as doenças infecciosas vão continuar a existir e as crianças a adoecer, sendo mais frequentes as doenças virais respiratórias e gastrintestinais», refere a Dr.ª Ana Leça, da Unidade de Infecciologia do Hospital de Dona Estefânia, em entrevista à Informação SIDA®. E adianta:

«A susceptibilidade às doenças infecciosas é tanto maior quanto mais jovem for a criança, e a tendência a complicações é também maior, como acontece nas infecções por rotavírus e vírus sincial respiratório (VRS). As infecções banais podem ser mais graves nas crianças com factores de risco, nomeadamente, com doenças crónicas ou submetidas a terapêutica imunossupressora, independentemente da sua idade.»

Apesar do panorama nacional nos dar alguma segurança, a verdade é que as crianças de hoje estão mais sujeitas a infecções do que há uns anos.

Para Ana Leça, «a entrada precoce no infantário é, talvez, o maior factor de risco para a aquisição de infecções. Os infantários são comunidades fechadas, com maior probabilidade de transmissão da infecção, obrigando a um cuidado adicional de medidas de controlo, de modo a minimizar os riscos de contágio e a frequência das infecções».

«O estilo de vida actual, com pai e mãe a trabalhar, e a diminuição progressiva do papel da família alargada obrigam a que um número cada vez maior de crianças frequente o infantário no primeiro ano de vida, logo após o término da licença de maternidade. Nesta fase, não só o sistema imunitário é ainda imaturo, sem as capacidades da criança mais velha, e sem experiência anterior de contacto com os microorganismos mais frequentemente envolvidos nas infecções das crianças (principalmente, vírus e bactérias, mas também parasitas e fungos), como também não se completou ainda a série primária de vacinações, ou seja, o número de doses que efectivamente protege contra as doenças-alvo», alerta a especialista.

Nesta altura do desenvolvimento da criança, o bebé vai ter a tendência de descobrir o mundo que o rodeia, nem sempre da forma mais saudável ou higiénica. É nestas alturas que o conhecimento dos funcionários e profissionais dos estabelecimentos a quem os pais confiam a guarda dos seus filhos pode fazer a diferença.

Transmissão e prevenção

Segundo Ana Leça, «as crianças têm uma grande actividade mão-boca: brincam e comem juntas, passando facilmente os agentes infecciosos de umas para as outras. E, apesar da maioria das doenças contraídas nos infantários serem benignas e autolimitadas, são sempre um acontecimento negativo na vida da criança e da família. A aquisição de uma infecção implica basicamente três processos: a excreção do microorganismo pelo indivíduo infectado, a sua transferência a outro indivíduo, e a inoculação, ou seja, o microorganismo deve atingir um local susceptível no indivíduo contagiado».

Algumas atitudes preventivas das infecções não são de difícil implementação e garantem resultados tremendamente eficazes. Um dos melhores pressupostos é a discriminação das tarefas. Basta ficar definido com quem faz o quê, como o faz e em que condições. A este propósito, a médica sustenta a argumentação com um exemplo prático.

«As creches e os infantários devem ser muito rigorosos na aplicação de medidas preventivas de higiene e saúde, de modo a criar as melhores condições possíveis para a prevenção da transmissão das infecções. A legislação existente per si não basta; mais importante é a formação e sensibilização, pois é muito mais eficaz explicar uma atitude do que impor uma norma. Algumas dessas atitudes não são de difícil implementação e garantem resultados tremendamente eficazes, como seja a discriminação das tarefas», refere, acrescentando:

«Um exemplo lógico de eficácia na prevenção de infecções é ter a preocupação de que quem cozinha não muda as fraldas, os balcões estarem bem limpos ou os brinquedos serem lavados regularmente, bem como não haver peluches, que são verdadeiros ninhos de infecções. E, como todos sabemos, a lavagem correcta e frequente das mãos é uma medida fundamental na prevenção da infecção hospitalar e que, obrigatoriamente, deverá ser implementada em qualquer comunidade fechada, como é o caso de infantários e escolas.»

Não há dúvida de que estamos preparados para enfrentar as mais diversas situações de doença que possam afectar as crianças.

A esse propósito, Ana Leça não hesita, pois, «existe legislação referente a doenças que obrigam a evicção da escola ou do infantário, pois representam um risco documentado para a saúde pública, e essa lei aplica-se às crianças e aos adultos que trabalham em infantários e escolas».

Algumas destas doenças são de declaração obrigatória. Para casos de meningite, existe, desde 1997, o projecto SARA-MENINGITES (Serviço de Alerta e Resposta Apropriada), que tem por finalidade uma actuação precoce e concertada a nível comunitário. Esta actuação passa pela instituição de profilaxia, quando indicada, ou por medidas educativas, de modo a desmistificar receios e evitar atitudes de pânico menos adequadas.

Finalmente, o Programa Nacional de Vacinação (PNV), que é considerada a mais eficaz medida de Saúde Pública.
«Este programa é universal e gratuito, com um esquema de vacinas consideradas as mais importantes em ganhos de saúde.

A cobertura de vacinação atingida em Portugal é das melhores da Europa e tem permitido um controlo sustentado das doenças-alvo. Igualmente, a elevada taxa de cobertura de vacinação condiciona a chamada imunidade de grupo, com protecção adicional dos não vacinados, por impedir a circulação do agente infeccioso».

No entanto, e apesar de os profissionais de saúde estarem preparados para lidar com as mais diversas situações, a verdade é que, psicologicamente, é perfeitamente compreen sível que um pai procure a resposta que mais o tranquiliza em relação a uma eventual doença de um filho. Esta é uma atitude que leva, frequentemente, ao entupimento das urgências dos hospitais. No entanto, há outros caminhos que, eventualmente, até podem ser mais eficazes.

«A criança mais jovem não apresenta muitas vezes sinais localizadores da infecção, ao contrário da criança mais velha; por exemplo, uma infecção urinária ou uma otite podem manifestar-se apenas por febre, ao contrário da criança mais velha, em que surgem a otalgia ou os sintomas urinários. No entanto, estes sinais ou sintomas não deverão ser de imediato motivo para recurso a uma urgência hospitalar, como tantas vezes se verifica.

As urgências hospitalares estão “entupidas” com casos resolúveis a nível ambulatório. Defendo o primado do médico assistente, pediatra ou clínico geral com formação pediátrica, ou, em caso de impossibilidade, o contacto prévio com outras estruturas disponíveis, como a linha Dói, Dói, Trim, Trim (808 242 400)», advoga a médica.

Apesar de existirem riscos, os programas de Saúde Infantil, em que se inclui o PNV, e ainda a comunicação entre os vários profissionais envolvidos na saúde da criança tem permitido uma melhoria progressiva no que se refere ao controlo das doenças infecciosas.

Para a especialista, «a situação em relação às doenças infecciosas da infância parece controlada no nosso País, a comunicação entre as escolas, os hospitais e as autoridades de saúde está a funcionar. Penso que estamos preparados e capacitados para dar a resposta às situações que apareçam. Mas há sempre que melhorar e tornar os objectivos em termos de prestação global de saúde cada dia mais exigentes», conclui.

Cobertura do Programa Nacional de Vacinação

O actual Programa Nacional de Vaci nação (Janeiro de 2006) inclui a protecção contra 11 doenças: tuberculose, hepatite B, tétano, difteria, tosse convulsa, poliomielite, doença invasiva por Haemophilus influenzae b, doença por Neisseria meningitidis C, sarampo, parotidite epidémica e rubéola.
Um dos objectivos do PNV é obter a melhor protecção, na idade mais adequada e o mais precocemente possível.

Doenças mais frequentes e sintomatologia

  • Difteria, escarlatina, febres tifóide e paratifóide, hepatite A, hepatite B, impetigo, infecção meningocócica, parotidite epidémica, poliomielite, rubéola, sarampo, tinha, tosse convulsa, tuberculose pulmonar, varicela.

Os sinais e sintomas que deverão constituir um alerta para os pais e uma indicação para a não frequência do infantário, são, nomeadamente:

  • Exantema, diarreia, vómitos, prostração excessiva, recusa alimentar, choro persistente, irritabilidade, dificuldade respiratória ou tosse persistente.

A criança mais jovem é paucissintomática, e o mesmo sinal, como a febre ou o exantema, poderá corresponder a nosologias de significado muito diferente, desde uma infecção viral banal a uma doença de grande gravidade como uma sépsis.

Transmissão de infecções

As maiores vias de transmissão das infecções em infantários são:
  • - fecal-oral (ex. rotavírus, enterovírus, giardíase);
  • - respiratória (VRS, adenovírus, gripe, varicela, pneumococo, meningococo);
  • - contacto directo (varicela, pediculose, escabiose, impetigo).

1 comentários:

Anônimo disse...

Excelente Pesquisa! E obrigada por a teres partilhado amiguito. ;p