sábado, 16 de maio de 2009

Era uma vez... e ainda é

Com a semana da criança à porta, algumas das aulas de ECDM, têm-se baseado em contar histórias. Se na primeira vez, o jogo era imaginar uma, na segunda feira passada o jogo foi contar uma história a partir de livros infantis. Ler histórias, será essencial daqui para a frente. Pode parecer fácil mas não é assim tanto. É preciso saber usar a voz, colocá-la, ler com calma e pausadamente entre muitos outros aspectos. Em TPIE, o trabalho dos ilustradores está ainda para ser apresentado. Um trabalho que deu mesmo trabalho mas onde conhecemos ilustradores magnificos. O que tem isto em comum? Bem um livro para crianças é um livro para crianças. A leitura destes livros juntamente com o grafismo que apresenta faz passar mensagens. Os livros ensinam muito mais do que à primeira vista pode transparecer. Vejam só:

Ler um conto de fadas a uma criança é muito mais do que contar-lhe uma qualquer história. É dar-lhe asas e respostas para a vida. Não deixe o seu filho em terra.

Os contos de fadas oferecem respostas para todas as dúvidas existenciais e angústias da infância. Muitos psicanalistas, psicoterapeutas e especialistas em desenvolvimento infantil estudaram a forma como estes contos actuam nas crianças que os escutam.

«Todos os problemas e ansiedades infantis, como a necessidade de amor, o medo do desamparo, da rejeição e da morte são colocados nos contos em lugares fora do tempo e do espaço, mas muito reais para as crianças», afirma o psicanalista Bruno Bettelheim no seu livro Psicanálise dos Contos de Fadas. Ainda segundo este autor, estes contos «são orientados para o futuro e guiam a criança na procura de uma existência mais independente».

As personagens boas e más, sempre bem distintas, os obstáculos que enfrentam, os desfechos que não trazem finais felizes para todos, contribuem para a formação da personalidade, para o equilíbrio, para o bem-estar e – há quem jure a pés juntos – contribuem também para a sabedoria e para a felicidade.

Por isso são imprescindíveis na “dieta” das crianças. Hoje, são muitas as que passam “fome” deste alimento - porque é preciso crescer rápido, porque é preciso ser racional num mundo competitivo (desde o berço) e, basicamente, porque o tempo parece não chegar.

Existem hoje três “atitudes-tipo” em relação aos contos de fadas: rejeição total, porque falam de um mundo de fantasia e não estimulam a racionalidade; aceitação total com abertura de espírito para que os contos de fadas possam falar às crianças; e uma aceitação contida, com algumas dúvidas sobre os benefícios do seu conteúdo.

São os pais que têm esta atitude mais dúbia que caem na tentação alterar o fio da história. Põem a avozinha dentro do armário, em vez assumir que foi comida pelo lobo, dizem que a rainha mandou o caçador levar a Branca de Neve embora, em vez de a matar, ou que a Gata Borralheira não tinha mãe porque ela foi trabalhar para fora.

Ora, todos os especialistas são unânimes em afirmar que as crianças não devem ser poupadas à violência que existe nestes contos e, mais, que esta violência é estruturante. A vida não é só cor-de-rosa. «A dor e a maldade fazem parte da vida e é bom que a criança se familiarize com essa realidade», defende Cláudia Valentim.

«Quando se omitem partes da história está a privar-se a criança de elementos importantes. A criança também tem o seu lado mau, também acontece ser um bocadinho “mazinha”. Se ela sentir que também há nas histórias quem passe por esses processos, quem falhe, ela vai identificar-se», explica.

Claro que tudo isto são processos inconscientes. E os especialistas também são unânimes quanto à necessidade de não ler a história com objectivos didácticos, sublinhando, no final, as “lições” que interessa aos pais passar. As crianças apreendem intuitivamente as mensagens relevantes. Aos pais basta-lhes estar disponíveis e acreditar no poder transformador da história.

“Viver feliz para sempre” não tem de ser um exclusivo dos contos de fadas. A fantasia que se encontra nestas histórias contribui para que as crianças cresçam mais optimistas, sensíveis e confiantes. Afinal, acreditar que se pode viver feliz para sempre é determinante para que também a vida real tenha muitos finais felizes...

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